A aparente desordem dos corpos celestes constitui, na realidade, uma ordem dirigida pela sabedoria divina. Entretanto, Deus presta mais atenção a uma Ave-Maria que rezamos, do que ao movimento de todos os astros.
Ao contemplarmos um céu estrelado temos, ao mesmo tempo, uma impressão de beleza e de uma pontinha de desordem. As estrelas estão, aparentemente, meio jogadas de cá e de acolá. Dir-se-ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma mão distraída…
Então impressionam pelas distâncias, pela beleza de cada uma delas, pela grandeza do conjunto, mas não notamos certa ordenação a qual gostaríamos que existisse.
Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e profundo do que nos seria proporcionado por uma ordenação evidente. Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele não faria essas maravilhas em meio a uma espécie de desordem; e que, quando conhecermos bem como se compõem as constelações, perceberemos realidades que ainda não vemos, as quais indicarão uma ordem magnífica dentro disso.
Nos corpos celestes acontece de tudo: vulcões que entram em erupção dentro de alguns deles, estrelas cadentes, outras explodem de repente…
Havendo, então, uma catástrofe qualquer numa estrela, nós pensamos: “Deus nem toma conhecimento, porque não tem tempo de prestar atenção nisso. Essas estrelas são como um farelo luminoso que, numa hora de generosidade, Ele jogou por aí e depois nem olhou mais; deixou isso completamente de lado, não Se preocupa”.
Essa impressão não é verdadeira, e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador. Tais são a ciência e o poder divinos que, para Ele, tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as estrelas ao mesmo tempo, como o ocorrido em uma estrela só. Deus sabe de cada estrela como se somente esta estivesse diante d’Ele.
Ademais, não há estrelas inúteis nem repetidas. Deus não gagueja, ou seja, não faz criaturas supérfluas como um gago pronunciaria determinadas sílabas. Na Criação, todos os seres têm seu papel para a realização dos planos divinos, e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder d’Ele criar entes inúteis.
Portanto, todos os acontecimentos — mesmo as explosões, estrelas cadentes, etc. — têm sua razão de ser e obedecem a um plano por Ele traçado. E aquilo que para nós é um desastre, como o desaparecimento de uma estrela, Deus assim o quis e calculou para fazer parte da ordem universal instituída por Ele.
É como um músico que, ao executar uma peça num piano ou num órgão, interrompe uma nota que vinha sendo tocada. Isso não é um desastre, mas está calculado para dar continuidade à harmonia.
Também na ordem do universo tudo está calculado para a glória de Deus. E faz parte dessa glória que contemplemos as estrelas para melhor entendermos a Ele. E se o Altíssimo está de tal maneira atento ao que se passa com as estrelas, quanto mais prestará atenção em nós, que somos uma razão para Ele as ter criado!
De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respeito das estrelas é particularmente verdadeiro em relação aos homens.
Deus tem a alma de cada um de nós mais em vista e, por assim dizer, presta mais atenção numa oração — uma Ave-Maria ou, a “fortiori”, uma Comunhão — que façamos, do que na rotação geral de todo o universo.
Por exemplo, a Santíssima Trindade está contemplando esta reunião e a disposição das almas de todos nós.
Compreendemos bem, dessa maneira, quanto Deus é atento às orações, quanto Ele se inclina para ouvir aquilo que temos a Lhe dizer, e como podemos, portanto, ter a confiança de que não nos perdemos no vácuo nem no caos.
A humanidade não é um vácuo. Será talvez um caos por culpa dos homens. Mas quanto Deus ama aqueles que são as “estrelas” fiéis que continuam a brilhar! E quanto a bondade d’Ele está pronta a amparar as “estrelas” não fiéis que começam a cair, e solícito a tirar do fundo dos abismos as que caíram para repô-las em seu devido lugar e continuarem, assim, a executar as ordens d’Ele!
Consideremos, por exemplo, que quando Deus criou as estrelas, pensou em cada um dos homens que haveria de criar. E ao fazê-las cintilar nos espaços vazios, uma das intenções d’Ele era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroísmo, por amor a Ele; e, na hora de criar as estrelas, Deus — que conhece o presente, o passado e o futuro perfeitamente, até nos seus últimos pormenores — viu essas estrelas brilharem e pensou nos heróis da Fé que haveriam de, um dia, morrer debaixo da cintilação delas, aceitando voluntariamente aqueles padecimentos e dizendo:
“Vim aqui e estou morrendo assim porque eu quis. Deus, quando olhou para sua Criação, viu-me no campo de batalha. E, como todos os que morrem combatendo por amor à Fé, cintilei aos olhos d’Ele como essas estrelas do céu.”
Há um hino a Nossa Senhora que A invoca como “Stella Clarissima”: Estrela Luminosíssima. Esse título vem muito a propósito porque no firmamento há muitos astros, mas Ela é o mais luminoso dentre todos eles, ou seja, a mais brilhante das criaturas.
Por que se fala de estrela? Porque a estrela brilha na escuridão noturna, e é uma consolação para quem, de noite, está olhando para o céu. Esta vida é para o católico uma noite, um vale de lágrimas, uma época de provação, de perigo, de apreensão. Na eternidade vamos ter o dia; esta vida terrena é noite para nós, mas temos uma Estrela que nos guia, e constitui nossa consolação em meio às trevas.
Sem dúvida, existem algumas relações entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo deserto, e o destino para onde se dirigem. Uma delas está em que a rota da estrela é indicativa da chegada. Outra relação muito bonita é o modo pelo qual a estrela já faz prever como será o destino.
Está no senso popular da Fé que a estrela de Belém seja representada de tal modo, que ela dê uma ideia da coruscação incomparável que os Reis Magos vão contemplar, ao encontrarem a Sagrada Família. De maneira que a estrela indicava o caminho, mas também simbolizava, de algum modo, Aquele que seria encontrado.
Por essa razão, analogamente, Nossa Senhora é aclamada pela Igreja como a Estrela da Manhã. A estrela d’alva se manifesta quando, em plena noite, de repente o céu começa a ficar um pouco pálido. Então ela brilha.
Maria Santíssima é, pois, em meio às trevas deste mundo, o sinal de que o Sol de Justiça está por nascer(1). v
Plinio Corrêa de Oliveira
1) Cf. conferências de 24/8/1965, 16/1/1978, 28/4/1981, 25/1/1982, 21/12/1988, 1/12/1991 e 15/4/1994.
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